No primeiro domingo de março de 2022, iniciamos em nossa comunidade uma série de mensagens baseada na carta do apóstolo Paulo aos Efésios. Compartilhei com a igreja que o pastor galês, Dr. Martyn Lloyd-Jones, pregou cerca de 260 mensagens para cobrir os 6 capítulos desta carta, aos domingos pela manhã na igreja Westminster Chapel, em Londres, entre os anos de 1954 a 1962. Essa série está disponível em 8 volumes publicados em português pela Editora PES (Publicações Evangélicas Selecionadas). Na preparação da mensagem, me dei de presente o privilégio de ouvir um áudio com rev. Dr. Lloyd-Jones pregando o primeiro sermão desta série no domingo de 03 de outubro de 1954 – disponível no site MLJ Trust, onde você pode acessar 232 mensagens em áudio desta série e um total aproximado de 1.600 de seus sermões para ouvir gratuitamente. Ele diz na introdução de sua mensagem:
“Ao abordarmos esta Epístola, confesso francamente que o faço com considerável arrojo. É muito difícil falar dela de maneira comedida por causa da sua grandeza e da sua sublimidade. Muitos tentaram descrevê-la. Um escritor a descreveu como ´a coroa e clímax da teologia paulina´. Outro disse que ela é ´a destilada essência da religião cristã, o mais autorizado e o mais consumado compêndio da nossa santa fé cristã´. Que linguagem! E de maneira nenhuma exagerada.
Longe de mim querer competir com os que assim tem procurado descrever esta Epístola, mas me parece que qualquer descrição geral que dela se faça deve observar de modo especial certas palavras que lhe são características, e que o apóstolo usa mais vezes nela, talvez, do que em qualquer outra Epístola. O apóstolo fica maravilhado ante o mistério, as glórias e as riquezas do método de redenção de Deus em Cristo. Como eu mostrarei, estas são as palavras que ele usa com muita frequência – a glória disso, o mistério e as riquezas do método de redenção de Deus em Cristo!
Outra maneira pela qual se pode expor a característica peculiar desta grande Epístola é mostrar que esta é uma carta na qual o apóstolo olha para a salvação cristã da vantajosa posição dos ´lugares celestiais´. Em todas as suas Epístolas ele expõe e explica o caminho da salvação; ele trata de doutrinas específicas, e de discussões ou controvérsias que tinham surgido nas igrejas. Mas o peculiar traço e caraterística da Epístola aos Efésios é que aqui o apóstolo parece estar como ele mesmo diz, nos ´lugares celestiais´, e dessa posição especial ele está contemplando o grandioso panorama da salvação e da redenção. O resultado é que nesta Epístola há muito pouca controvérsia; e isso porque o seu grande interesse foi dar aos Efésios, e a outros aos quais a carta é dirigida, uma visão panorâmica desta maravilhosa e gloriosa obra de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor.
Da Epístola aos Romanos Lutero diz: ´ela é o documento mais importante do Novo Testamento, o evangelho em sua expressão mais pura´, e em muitos aspectos eu concordo que não existe exposição mais pura e mais clara do evangelho do que na Epístola aos Romanos. Aceitando isso como certo, eu me aventuro a acrescentar que, se a Epístola aos Romanos é a expressão mais pura do evangelho, a Epístola aos Efésios é a expressão mais sublime e mais majestosa dele. Aqui o ponto de vista é mais amplo e maior. Há declarações e passagens nesta Epístola que realmente frustram qualquer tentativa de descrição. O grande apóstolo empilha epíteto sobre epíteto, adjetivo sobre adjetivo, e ainda assim não consegue expressar-se adequadamente. Há passagens no capítulo primeiro, e outras no capítulo 3, especialmente mais para o fim dele, em que o apóstolo é transportado acima e além de si próprio, e se perde e se abandona numa explosão de adoração, louvor e ação de graças. Reitero, pois, que em toda a extensão das Escrituras não há nada que seja mais sublime do que esta Epístola aos Efésios.” (LLOYD-JONES, D.M. O supremo propósito de Deus; PES; pp.11-12).
Uma última citação, nessa mensagem de introdução a essa Epístola, Dr. Lloyd-Jones comenta sobre os grandes temas que encontramos em Efésios:
“…Permita-me fazer um sumário deles, de maneira simples e prática. Por que estou chamando a sua atenção para tudo isso? É porque estou profundamente convencido de que a nossa maior necessidade é conhecer estas verdades. Todos nós precisamos rever esta gloriosa revelação, e livrar-nos da nossa mórbida preocupação com nós mesmos. Se apenas nos víssemos como somos retratados nessa Epístola; se apenas nos apercebêssemos, como o apóstolo o expressa em sua oração nos versículos 17-19, de que devemos saber ´qual seja a esperança da nossa vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; e qual a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder´, que diferença isso faria! Acaso você é um cristão acabrunhado, infeliz, achando que a luta é demais para você? Você está a ponto de ceder e desistir? O que você necessita é conhecer o poder que está operando vigorosamente por você, o mesmo poder que ressuscitou Cristo dentre os mortos. Se tão-somente soubéssemos o que significa sermos ´cheios de toda a plenitude de Deus´, deixaríamos de ser fracos e de afligir-nos, deixaríamos de apresentar um quadro tão lamentável da vida cristã aos que vivem conosco e ao redor de nós. O que necessitamos primordialmente não é uma experiência, é, sim, compreender o que somos e quem somos, o que Deus em Cristo fez e como Ele nos abençoou. Não nos apercebemos dos nossos privilégios.
A nossa maior necessidade ainda é a necessidade de entendimento. A nossa oração por nós mesmos deve ser a oração que o apóstolo fez por aquelas pessoas, que ´os olhos do (nosso) entendimento´ sejam ´iluminados´. É disso que precisamos. Nesta Epístola ´as abundantes riquezas´ da graça de Deus são expostas diante de nós. Vejamo-las, tomemos posse delas e desfrutemo-las. Acima de tudo, e especialmente numa época como esta, quão vital é que tenhamos um novo e robusto entendimento do grande plano e propósito de Deus para o mundo. Com conferências internacionais sendo realizadas quase na soleira da nossa porta, com todo o mundo perguntando qual será o futuro e quais serão as consequências dos nossos problemas atuais, com os homens perplexos e desanimados, quão privilegiados somos, por podermos pôr-nos de pé e olhar esta revelação, e ver o plano e o propósito de Deus por trás e além disso tudo. Plano e propósito que não serão realizados por meio de estadistas, mas por meio de pessoas como nós. O mundo ignora isto e dá risada e zomba; no entanto, com o apóstolo, nós sabemos com certeza que ´todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e… todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro´ foi posto debaixo dos pés de Cristo. O Senhor Jesus Cristo foi rejeitado por este mundo quando Ele veio, os homens O repudiaram como ´a um qualquer´, um ´carpinteiro´; contudo Ele era o Filho de Deus e o Salvador do mundo, o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, Aquele diante de quem se dobrará ´todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra´ (Filipenses 2:10). Graças sejam dadas a Deus pelo glorioso evangelho de Jesus Cristo, e pelas ´riquezas da sua graça´!” (LLOYD-JONES, D.M. O supremo propósito de Deus; PES; pp.20-21).
Gostaria apenas de lembrá-lo que Lloyd-Jones estava aqui pregando em 1954, mas como o seu texto ainda é atual, ainda necessitamos de entendimento, essa Epístola ainda fala hoje.