Estou relendo o clássico “Uma longa obediência na mesma direção: discipulado numa sociedade instantânea)”, de Eugene Peterson (1932-2018), publicado em 1980, tendo sua primeira edição em português em 2005 (hoje publicado pela Editora Cultura Cristã).
Eugene Peterson é considerado por muitos como um pastor de pastores, é um dos meus autores permanentes em minhas leituras e sempre que possível retorno a seus textos.
Cada capítulo desse livro faz uma reflexão sobre os “Cânticos de Subida” (Salmos 120 a 134), quinze salmos que possivelmente eram cantados durante a peregrinação dos hebreus quando subiam até Jerusalém três vezes por ano para as grandes festas de culto religioso citadas em Êxodo 23:14-17 e 34:22-24 (Festa dos Pães sem Fermento/Festa da Páscoa no começo do verão; Festa das Semanas/ou Pentecostes no outono; e Festa das Tendas/ou Tabernáculos no fim do ano).
Algumas citações para encorajar você nessa deliciosa e rica leitura:
“Este mundo não é amigo da graça. Uma pessoa que assume um compromisso com Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador não encontra uma multidão se formando imediatamente para aplaudir a decisão, nem amigos antigos se reunindo espontaneamente à sua volta para dar os parabéns e aconselhamento. Comumente nada é diretamente hostil, mas há um acúmulo de desaprovação e indiferença agnóstica que constitui, assim mesmo, uma oposição espantosamente pavorosa.” (p.11).
“Uma pessoa precisa estar totalmente aborrecida com o modo em que estão as coisas para encontrar a motivação para partir no caminho cristão. (…) O indivíduo tem que estar farto com os modos do mundo antes que ele ou ela adquira um apetite pelo mundo da graça.” (p.19).
“[Salva-me das mentiras dos anunciantes que afirmam saber o que eu preciso e o que desejo, das mentiras dos que oferecem entretenimento, que prometem um caminho barato para a alegria, das mentiras dos políticos que fingem instruir-me sobre o poder e a moralidade, das mentiras dos psicólogos que oferecem moldar meu comportamento e meus princípios morais para que eu viva uma vida longa, com felicidade e sucesso, das mentiras dos beatos que “curam superficialmente as feridas deste povo”, das mentiras dos moralistas que fingem promover-me à posição de capitão do meu destino, das mentiras dos pastores que “se livram do mandamento de Deus para você não ser incomodado ao seguir as modas religiosas!” (Mc. 7:8). Salva-me da pessoa que me conta sobre a vida e omite Cristo, que é sábia quanto aos caminhos do mundo e ignora o mover do Espírito.” (p.20).
“John Baillie escreveu: “Estou certo que o trecho da estrada que mais precisa ser iluminado é o ponto em que ela se bifurca”. O Deus do salmista é um relampejar de raio que ilumina justamente esse tipo de bifurcação. O Salmo 120 é a decisão de escolher um caminho em oposição a outro. É o ponto crucial que marca a transição de uma nostalgia sonhadora para uma vida melhor a uma peregrinação dura de discipulado em fé, a mudança de reclamar sobre como as coisas estão más e ir atrás de todas as coisas boas.” (p.21).
“Arrependimento é a mais prática de todas as palavras e o mais prático de todos os atos. É um tipo de palavra concreta. Põe a pessoa em contato com a realidade que Deus cria. (…)O tolo olha para o relâmpago, o sábio para a estrada que ali está – iluminada – à sua frente.” (p.22).
“Arrependimento, a primeira palavra na imigração cristã, nos coloca no caminho para a viagem na luz. É uma rejeição que também é uma aceitação, uma partida que se desenvolve numa chegada, um não ao mundo que é um sim para Deus.” (p.24).
“Para muitos, a primeira grande surpresa da vida cristã é na forma das dificuldades que enfrentamos. Parece que não é bem o que tínhamos previsto; esperávamos algo bem diferente; tínhamos a mente colocada no Éden ou na Nova Jerusalém. Despertados rudemente, olhamos em redor buscando socorro, buscando no horizonte alguém que nos auxilie: “Elevo os meus olhos para os montes; será que minha força vem dos montes?”. (p.28).
“A promessa do salmo – e tanto os hebreus como os cristãos sempre o leram assim – não é que nunca iremos dar uma topada com os dedos do pé, mas que nenhum ferimento, nenhuma doença, nenhum acidente, nenhuma ansiedade terá poder maléfico sobre nós, isto é, poderá separar-nos dos propósitos de Deus para nós.
Nenhuma literatura é mais realista e honesta em enfrentar os duros fatos da vida do que a Bíblia. Em nenhum momento há a menor sugestão que a vida de fé nos isente de dificuldades. O que a Palavra promete é a preservação de todo o mal no meio delas. Em cada página da Bíblia há o reconhecimento de que a fé depara com problemas. O sexto pedido da Oração do Senhor é “Não nos deixe cair em tentação, mas livre-nos do mal”. Essa oração é respondida todos os dias, às vezes várias vezes por dia, na vida daqueles que percorrem o caminho da fé. São Paulo escreveu: “Nenhuma provação ou tentação que apareça no seu caminho será mais forte do que as que outros já tiveram de enfrentar. Tudo de que você precisa lembrar é que Deus nunca o desapontará; ele nunca deixará que seja pressionado além de seu limite; ele sempre estará lá para ajudá-lo a passar por ela” (1 Co. 10:13).” (p.30).
“Nenhuma das coisas que lhe acontecem, nenhuma das dificuldades que você encontra tem algum poder para se colocar entre você e Deus, diluir a graça dele em você, distrair a vontade dele de você” (ver Romanos 8:28, 31, 32).” (p.31).
“…o Salmo 121 diz que a mesma fé que funciona nas grandes coisas funciona nas pequenas coisas. O Deus de Gênesis 1 que das trevas tirou a luz é também o Deus do dia de hoje que o guarda de todo o mal.” (p.31)
“A vida cristã não é um retiro solitário num jardim onde podemos caminhar e conversar com o nosso Senhor sem interrupções, não é uma viagem fantástica a uma cidade celestial onde podemos comparar nossas taças e medalhas de ouro com as de outras pessoas da roda de campeões. Supor isso, ou esperar isso, é virar a porca no sentido contrário. A vida cristã é ir até Deus. Ao ir a Deus os cristãos percorrem o mesmo terreno que todos os outros percorrem, respiram o mesmo ar, bebem da mesma água, fazem compras nas mesmas lojas, lêem os mesmos jornais, são cidadãos sob o mesmo governo, pagam os mesmos preços para alimentos e gasolina, temem os mesmos perigos, estão sujeitos às mesmas pressões, sofrem as mesmas aflições, são enterrados no mesmo chão.
A diferença é que a cada passo que caminhamos, a cada fôlego que tomamos, sabemos que somos preservados por Deus, sabemos que somos acompanhados por Deus, sabemos que somos governados por Deus; portanto, sejam quais forem as dúvidas que suportamos ou os acidentes por que passamos, o Senhor nos guardará de todo mal, ele guardará a nossa própria vida. (…)A fé não é uma questão incerta de escapar por acaso dos ataques satânicos. É a experiência sólida, maciça, segura de Deus, que impede todo mal de penetrar dentro de nós, que guarda nossa vida, que guarda-nos quando saímos e quando retornamos, que nos guarda agora, que nos guarda sempre.” (p.32).
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