“Um transatlântico zarpa de Nova York em direção a Liverpool. Seu destino já foi determinado pelas devidas autoridades. Nada pode mudá-lo. Isto dá uma pálida ideia de soberania.
A bordo do navio, há dezenas de passageiros. Estes não estão acorrentados, e suas atividades não foram predeterminadas por terceiros. Eles têm completa liberdade para andar pelo navio como bem entender. Comem, dormem, jogam, descansam no convés, leem, conversam, tudo inteiramente a seu próprio critério; mas o navio segue sem parar em direção ao porto de destino.
Tanto a liberdade quando a soberania estão presentes ali e não se contradizem mutuamente. Creio que seja o mesmo com a liberdade do homem e a soberania de Deus. O poderoso transatlântico da soberania de Deus se mantém no curso através do mar da História. Deus se move imperturbável e inexoravelmente em direção ao cumprimento dos propósitos em Cristo Jesus antes da fundação do mundo. Não podemos saber tudo o que implicam tais propósitos, mas nos foi revelado o suficiente para termos uma visão geral do que está por vir e nos dar boa esperança e firme certeza do bem-estar futuro.
Sabemos que Deus cumprirá cada promessa feita aos profetas; sabemos que os pecadores serão um dia erradicados da Terra; sabemos que os redimidos entrarão no regozijo de Deus, e que os justos brilharão no reino de seu Pai. Sabemos que as perfeições de Deus serão universalmente aclamadas, que toda a inteligência criada reconhecerá a Jesus Cristo para glória de Deus Pai, que a atual ordem imperfeita se acabará, e um novo céu e nova terra serão estabelecidos para sempre.
É nesta direção que Deus se move com infinita sabedoria e perfeita precisão em suas ações. Ninguém pode dissuadi-lo de seus propósitos; nada pode desviá-lo de seus planos. Por ser onisciente, não haverá circunstâncias imprevistas ou acidentes. Por ser soberano, nenhuma ordem será cancelada ou autoridade, subvertida. E, por ser onipotente, não faltará poder para atingir os objetivos que ele determinou. Deus é suficiente em si próprio para fazer todas as coisas.
Neste meio-tempo, nem tudo é tão simples quanto este breve resumo pode fazer parecer. O mistério da iniquidade já está operando. Dentro do largo escopo da soberana e permissiva vontade de Deus, o embate mortal do bem contra o mal segue crescendo em fúria. Deus cumprirá sua vontade em meio à tempestade e ao furacão, mas a tempestade e o furacão são um fato, e, como seres morais, cabe-nos fazer nossas escolhas na situação moral que se nos apresenta.
Certas coisas foram decretadas pela livre determinação de Deus, e uma delas é a lei das escolhas e consequências. Deus decretou que todos os que livremente se entregassem a seu Filho Jesus em obediência de fé receberiam vida eterna, tornando-se filhos de Deus. Ele também decretou que os que amassem as trevas e sustentassem a rebelião contra a elevada autoridade dos céus permaneceriam em afastamento espiritual e por fim sofreriam a morte eterna.
Reduzindo a questão a termos individuais, chegamos a algumas conclusões vitais assim como altamente pessoais. No conflito moral ao nosso redor, quem estiver ao lado de Deus escolheu o lado vencedor e não poderá se derrotado; quem quer que esteja do lado oposto estará do lado perdedor e não poderá vencer. Não há aqui espaço para acaso ou probabilidades. Há liberdade para se escolher um lado, mas não para negociar os resultados da escolha feita. Pela misericórdia de Deus, podemos nos arrepender de uma escolha errada e alterar as consequências fazendo uma nova escolha, desta vez correta. Não há como ir além disto.
Toda a questão das escolhas morais gira em torno de Jesus Cristo. Cristo disse claramente: “Aquele que não é comigo é contra mim”, e: “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”. A mensagem do evangelho incorpora três elementos distintos: um anúncio, um mandamento e um chamado. Ele anuncia as boas novas da redenção pela misericórdia; ele ordena que todos os homens se arrependam e os chama a render-se aos termos da graça mediante a fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador.
Todos devemos escolher se obedeceremos ao evangelho ou se lhe daremos as costas em descrença, rejeitando sua autoridade. Nossa escolha é pessoal, mas as consequências da escolha já foram determinadas pela soberana vontade de Deus, contra a qual não existe apelação possível.”
(TOZER, A. W. O conhecimento do Santo, Ed. Impacto, 2018, pp.225-228)