D. Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) pregou no ano de 1959 na Westminster Chapel em Londres, uma série de 24 pregações por ocasião do centenário do avivamento que ocorreu em 1859 no País de Galês. Esses sermões foram publicados em 1987 (a primeira edição em português em 1992: Avivamento, PES). Logo na mensagem de abertura, Dr. Lloyd-Jones prega baseado no evangelho de Marcos 9:28-29. Compartilho o texto e algumas frase spara refletirmos sobre esse tema::
“28Quando entrou em casa, os seus discípulos lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsá-lo? 29Respondeu-lhes: Esta casta não pode sair senão por meio de oração [e jejum]”. (Marcos 9:28-29 ARA)
“Num sentido, é claro, toda pregação deveria promover avivamento, e é somente à medida que nós, como cristãos, entendemos as doutrinas da fé cristã, que poderemos realmente esperar ver a necessidade de avivamento e, portanto, orar por ele (p.11).”
“…não hesito em afirmar que, a não ser que nós, individualmente como cristãos, sintamos uma preocupação séria acerca da condição da Igreja e do mundo hoje em dia, então somos cristãos muito medíocres. Se nos associamos com a Igreja Cristã simplesmente para recebermos ajuda pessoal, e nada mais, então somos meras crianças em Cristo. Se experimentamos crescimento em nossa vida cristã, então devemos ter uma preocupação a respeito da situação, uma preocupação a respeito da condição da sociedade, uma preocupação a respeito da condição da Igreja, e uma preocupação a respeito da armadura do Deus Todo-Poderoso (p.12).”
“A primeira coisa, portanto, que devemos considerar é este problema de diagnóstico. “Esta casta.” O problema com os discípulos era que eles tentaram tratar do problema antes de compreenderem a natureza do mesmo. E aqui está a ligação que a Igreja precisa aprender na época presente. Somos todos tão atuantes; estamos sempre tão ocupados. Afirmamos que somos pessoas práticas. Não estamos interessados em doutrina, e temos que estar constantemente fazendo alguma coisa; assim corremos para o nosso próximo compromisso. E talvez esta seja a razão principal do nosso fracasso. Não paramos para considerar “esta casta”. Talvez não estejamos tão conscientes quanto deveríamos a respeito da verdadeira essência do problema que nos confronta. Mas é uma regra e princípio universal que é loucura, e desperdício de energia, tentar qualquer tipo de tratamento antes de termos primeiro estabelecido um diagnóstico correto.” (p.15)
“Não é suficiente que estejamos conscientes de uma certa necessidade geral, porque essa está sempre presente. Quando este homem trouxe o seu menino aos discípulos, a necessidade era óbvia, mas isso também fora o fato em outros casos em que eles foram bem sucedidos. A necessidade é comum a todos, portanto, o mero fato de termos consciência dela nada diz. Nosso problema é a natureza precisa desta necessidade; qual é o seu caráter, exatamente? E é aqui que devemos pensar e compreender que precisamos de certa perspicácia e compreensão em nossa aproximação, a fim de podermos fazer um diagnóstico.” (p.16)
“O que é “esta casta”? Qual é o problema que está nos confrontando? Eu sinto que, ao examinarmos isto a fundo, veremos que o problema que enfrentamos é muito mais profundo e desesperador do que aquele que a Igreja Cristã enfrentou por muitos séculos. Digo isso porque o nosso problema não é apatia, não é uma simples falta de preocupação ou falta de interesse. É algo mais profundo. Parece-me que é uma completa inconsciência, até mesmo uma negação total, do espiritual. Não é somente apatia, não é que as pessoas no fundo realmente sabem o que é certo e verdadeiro mas não estão fazendo nada a respeito. Não, a própria ideia do espiritual desapareceu. A própria fé em Deus praticamente desapareceu.” (p.17)
“…minha resposta será que tudo isso parece nos colocar na mesma posição dos discípulos que tentaram expulsar o demônio do menino, aqueles homens que tinham sido tão bem sucedidos em muitos outros casos, mas que não conseguiram resolver este caso. E nosso Senhor lhes explica a razão: “Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum.” De fato Ele estava dizendo aos discípulos: “Vocês falharam aqui porque não tinham poder suficiente. Vocês estavam usando o poder que têm, e estavam muito confiantes. Vocês o fizeram com muita segurança, sentiram-se senhores da situação, pensaram que teriam sucesso imediatamente, porém não foi assim. Está na hora de pararem para pensar um pouco. Foi a sua ignorância acerca destas gradações de poder entre os espíritos malignos que os levou ao fracasso, e à condição abatida em que se encontram no momento. Vocês não têm poder suficiente. Eu fiz o que vocês não puderam fazer porque Eu tenho poder, porque estou cheio do poder que Deus me dá pelo Espírito Santo, porque Ele não me dá o Espírito por medida. Vocês nunca serão capazes de lidar com “esta casta” até que tenham buscado de Deus o poder que só Ele pode lhes dar. Vocês têm que se conscientizar de sua necessidade, de sua impotência, de sua incapacidade. Vocês precisam compreender que estão confrontando algo que é profundo demais para ser resolvido pelos seus métodos, vocês precisam de algo que pode atingir esse poder maligno e abalá-lo, e há somente uma coisa que pode fazer isso – é o poder de Deus.” (p.22-23)
“O valor do jejum é que ele nos capacita a dar atenção exclusiva a um certo assunto. Então o que nosso Senhor estava dizendo aos discípulos é isto: vocês só poderão tratar deste tipo de problema depois de orarem, concentrarem em oração, esperando em Deus, até que Ele os tenha enchido do Seu poder. Quando tiverem certeza de que têm esse poder, então vocês sairão com autoridade. Este é o caminho, e é o único caminho. Certamente ninguém negaria, hoje, que nada além de um poderoso derramamento do Espírito de Deus é adequado para tratar da situação que enfrentamos nesta segunda metade do século vinte*. Vocês ainda estão confiando nestas outras coisas? Esta é a questão crucial. Vocês vêem a desesperada necessidade de oração, de oração por parte de toda a Igreja? Eu não vejo esperança até que membros da Igreja estejam orando por avivamento, talvez se reunindo em lares, ou em grupos de amigos, ou se reunindo em igrejas, ou em qualquer outro lugar, orando com urgência e concentração por um derramamento de poder de Deus, semelhante ao que aconteceu há cem e há duzentos anos atrás, e em todos os outros períodos de avivamento e despertamento. Essa é a nossa única esperança. Mas, no momento em que começamos a fazer isso, a esperança ressurge. Oh, quando Deus manifesta o Seu poder, repete-se o que aconteceu com aquele pobre menino. Com aparente facilidade, quase sem esforço, o demônio é expulso, e o menino é curado e restaurado ao seu pai. Quando Deus Se levanta, Seus inimigos se espalham; esta é a história de todos os grandes avivamentos. Mas não vamos nos interessar por avivamento até que compreendamos a necessidade “desta casta”, a futilidade de todos os nossos esforços e empreendimentos, e a absoluta necessidade de oração e de buscar o poder de Deus, e nada mais (p.24).”
(LLOYD-JONES, D. M. Avivamento, PES, 1992)