“Inclina-me o coração aos teus testemunhos e não à cobiça” – Salmo 119:36
Em seu livro “Lendo a Bíblia de modo sobrenatural” (Editora Fiel), o pastor John Piper compartilha sobre como manter ou (re)acender o desejo pela meditação/leitura na Palavra de Deus. Se você tem lutado com isso, esse texto é para você.
“´Inclina-me o coração aos teus testemunhos.´ Com o passar dos anos em meu ministério pastoral, muitas pessoas têm se queixado de que não têm motivação para ler a Bíblia. Têm um senso de dever, mas não o desejo. É notável quantas dessas pessoas acham que a ausência de desejo é o golpe final na meditação prazerosa na Palavra de Deus.
Quando lhes peço que descrevam o que farão a respeito do problema, elas olham para mim como se eu não tivesse compreendido o problema. O que podemos fazer a respeito da ausência de desejo, elas perguntam. “Não é uma questão de fazer. É uma questão de sentir”, elas reclamam. O problema desta resposta é que essas pessoas não somente perderam o desejo pela Palavra de Deus, mas também perderam de vista o soberano poder de Deus. Estão agindo como ateus práticos. Adotaram o tipo de fatalismo que ignora a maneira como o salmista orou.
Evidentemente, o salmista também sentia esta horrível tendência para se afastar da Palavra de Deus. Evidentemente, ele também conhecia o esfriamento do desejo e a tendência de seu coração para se inclinar mais a outras coisas – em especial, o dinheiro. Se não, por que ele teria clamado: “Inclina-me o coração aos teus testemunhos e não à cobiça”? Ele estava insistindo com Deus que lhe desse desejo pela Palavra. O salmista sabia que, em última análise, Deus é soberano sobre os desejos do coração. Por isso, ele clamou a Deus que fizesse o que não podia fazer acontecer de si mesmo. Isto é a resposta ao fatalismo. É a resposta a agir como um ateu – como se não houvesse um Deus que governa o coração e que pode restaurar o que perdemos.
Não posso enfatizar demais como nossa real incapacidade deve ser acompanhada do clamor diário para que Deus desperte e sustente nosso desejo de ler sua Palavra. Muitos de nós são passivos no que diz respeito a nossas afeições espirituais. Somos fatalistas práticos. Pensamos que não podemos fazer nada. ´Oh! Bem, hoje não tenho nenhum desejo de ler a Bíblia. Talvez amanhã eu o tenha. Vejamos.´ E saímos para o trabalho.
O salmista não pensava nem agia dessa maneira. Não foi assim que agiram os grandes santos da história da igreja. A vida é guerra. E as principais batalhas são travadas no nível dos desejos e não das obras. Quando Paulo disse: ´Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena´, ele incluiu na lista ´paixão lasciva, desejo maligno e a avareza´ (Cl. 3:5). Estes são os grandes destruidores do desejo pela Palavra de Deus. O que Jesus disse que remove o nosso desejo pela Palavra? ´Os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra´ (Mc. 4:19). Paulo nos ordena matar essas ´demais ambições´, antes que elas nos matem. Paulo não nos incentiva a sermos passivos ou fatalistas. Ele nos encoraja a lutarmos por nosso desejo pela Palavra de Deus.
E o primeiro e mais decisivo golpe que podemos dar contra as ´demais ambições´ que ´sufocam a palavra´ é o clamor diário para que Deus ´incline´ nosso coração à sua Palavra e não à ´cobiça´. Não espere até que tenha perdido o desejo para começar a orar por este desejo. Se o desejo estiver presente, dê graças e peça a Deus que o preserve e o intensifique. Se você sente que seu desejo está esfriando, peça a Deus que o aqueça. E, se o desejo já se foi, e você não sente nenhum desejo de orar, faça o que pode. Arrependa-se. Conte a Deus que você está triste pelo fato de que o desejo pela Palavra está morto. Diga-lhe como você se sente. Ele já sabe. Peça-lhe – e isto é possível sem hipocrisia por causa da ´semente incorruptível´ (1 Pe. 1:23) que permanece nos filhos de Deus. Peça-lhe o desejo que agora você quase nem consegue ter vontade de pedir. Ele é misericordioso.”
(PIPER, John. “Lendo a Bíblia de modo sobrenatural”. Editora Fiel, 2018, pp.330-332)