O molde da glória divina

Meu parceiro de café nos últimos dias tem sido o livro “Lendo a Bíblia de modo sobrenatural”, escrito por John Piper.

Destaco apenas um trecho logo a seguir onde Piper argumenta sobre “o molde da glória divina” para encorajar você também à leitura desse livro e sobre o que é ler a Bíblia de modo sobrenatural.

“(…) Ter ´conhecimento de Deus´, em Romanos 1:21, inclui esta experiência de coração, mais profunda, referida em Romanos 2:15. A analogia que acho proveitosa é pensar no conhecimento inato de Deus e de sua vontade como um tipo de molde no coração humano. Este molde é criado por Deus em cada coração humano com uma forma que corresponde à glória de Deus. Em outras palavras, se a glória de Deus fosse vista com os olhos do coração, se encaixaria tão perfeitamente no molde que saberíamos que a glória é real. Saberíamos que fomos feitos para isto.

Portanto, quando Paulo diz que todos os humanos têm ´conhecimento de Deus´ ou que todos os humanos têm a norma da lei ´gravada no seu coração´, ele quer dizer que há um molde na forma de glória em cada coração esperando receber a glória de Deus. Todos temos ´conhecimento de Deus´ no sentido de que temos este testemunho em nosso coração, porque fomos feitos para esta glória. Há uma expectativa e aspiração latente, e a forma dela está inserida no profundo de nossa alma.

A razão por que não vemos a glória de Deus não é que o molde é defeituoso nem que a glória de Deus não está resplandecendo. A razão é ´dureza do coração´ (Ef. 4:18). Esta dureza é uma profunda aversão a Deus e um correspondente amor à autoexaltação. Paulo disse que a mentalidade da carne é inimizade contra Deus (Rm. 8:7). E Jesus disse que ´a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz´ (Jo. 3:19). Nosso problema não é que nos falta a luz, e sim que amamos as trevas. Esta é a dureza de nosso coração.

Assim, em minha analogia do molde, isto significa que o molde, o qual foi perfeitamente formado para a plena satisfação na glória de Deus, está abarrotado de amor por outras coisas. Por isso, quando a glória de Deus brilha no coração – a partir da criação, da encarnação de Jesus ou pelo evangelho – não acha lugar ali. Não é sentida nem percebida como apropriada. Para a mente natural – a mente cujo molde formado para a glória está lotado de ídolos – a glória de Deus é ´loucura´ (1 Co. 2:14). Não se encaixa ali. Como Jesus disse às pessoas de coração endurecido que desejavam matá-lo: ´Procurais matar-me, porque a minha palavra não está em vós´ (Jo. 8:37). É claro, elas podiam raciocinar e lembrar as palavras de Jesus. Mas não podiam vê-las como gloriosas e convincentemente belas. Ouviram as palavras, mas não as amaram. Estas pessoas amavam as trevas que enchiam o molde projetado para o resplendor da glória de Deus.”

PIPER, John. Lendo a Bíblia de modo sobrenatural: provando e vendo a glória de Deus nas Escrituras. Editora Fiel. pp.26-28.

Conversa espiritual

Acabo de ler o livro “Conversa espiritual”, baseado em uma entrevista realizada em 1992 do teólogo anglicano Philip Roderick com o teólogo católico Henri Nouwen (falecido em 1996). Nouwen escreveu mais de 40 livros sobre espiritualidade, entre eles os clássicos “A volta do filho pródigo” e “O caminho do coração”. A seguir um pequeno trecho dessa conversa para te encorajar na leitura.

“Ao ler Lucas, talvez você goste do momento em que Jesus escolhe os 12 apóstolos. O texto diz: ´À noite ele subiu à montanha para orar. Ao amanhecer ele desceu da montanha e chamou seus discípulos. À tarde ele saiu com eles, pregou a palavra de Deus e curou os enfermos.´ Assim, isso é comunhão com Deus, comunidade, ministério. Essa é a ordem das coisas – à noite orar, ao amanhecer formar uma comunidade e então com a comunidade, ministrar. Nós, no entanto, invertemos essa ordem; queremos fazer todo tipo de coisa e, se não funcionar, termos a ajuda de outras pessoas da comunidade e, se isso não funcionar começamos a orar. Essa, no entanto, não é a ordem do alto. Não é uma questão de estratégias, técnicas ou métodos. Deus nos ama, e de algum modo temos de estar bem confiantes. Às vezes conseguimos orar, e às vezes não. Às vezes há alguma solitude, às vezes não. Às vezes encontramos uma comunidade, às vezes não. Mas no meio disso, Deus está entre nós. Não que todos devam calar a boca e ter alguma solitude! A solitude e o silêncio significam coisas diferentes para pessoas diferentes em ocasiões diferentes. Eles não são respostas aos problemas do mundo num sentido formal, somente num sentido profundamente espiritual.”

(NOUWEN, Henri & RODERICK, Philip. Conversa espiritual, Ed. Palavra, Brasília, 2009, pp.70-71)